Movimento anti-casulo

terça-feira, 13 de julho de 2010


Amor é decisão, é compromisso, é dedicação, é envolvimento.

Ao ler a primeira carta de Paulo escrita para o recém formado grupo de cristãos em Tessalonica, me deparei com algumas declarações de amor embutidas e alguns questionamentos foram inevitáveis.
Consigo sentir a emoção de Paulo ao dizer que sempre lembra com carinho e ora por aqueles que um dia precisou abandonar tão precocemente, Lucas descreve o entrevero no livro de Atos capitulo 17.
Ao receber noticias daquele grupo formado na cidade portuária, fruto de sua segunda viagem missionária, Paulo escreve fazendo recomendações, orientando sobre "as coisas dos últimos dias", sobre os mortos, enfim todas as questões que naquele momento inquietavam os irmãos que sofriam perseguição.
No entanto, o que me pegou foi o entendimento de que, mais do que uma carta escatológica ali estava uma carta que expressa amor e cuidado. No cap 2 e ver 8 vem o "golpe" que me derrubou:
"Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas ainda as nossas próprias almas; porquanto nos éreis muito queridos."
Fiquei aflita para entender o que Paulo quis dizer com "comunicar nossas almas", afinal os filósofos gregos não tinham consenso a respeito da alma, suas funções e características.
Entendi que ele quis dizer o óbvio, existia naquele momento a necessidade de compartilhamento de anseios, desejos, aflições, medos, alegrias, amores, enfim tudo aquilo que denominamos pertencer a alma.
Não temos tempo, nem condição para fazer isto dentro das igrejas, ou em nossas reuniões, dificilmente compartilhamos algo além da persona de bom crente, limpinho e bom pagador das dividas. Persona que se encontra amalgamada ao eu, de forma que não há diferenciação. Os mestres tem muito a oferecer em termos de suas solidas teologias, mas pouco tocam outras almas.
Criamos casulos e nos chamamos de irmãos por pura convenção, hábito. Não estamos dispostos para nada mais do que um escandaloso "A Paz do Senhor, meu irmão" "Graça e Paz" ou "Paz de Deus", ao gosto do freguês.
Este seria o caminho inverso do desejado e arquitetado pelo Pai, basta ver o que Filho ensinou.
Em João 13, Jesus está prestes a trilhar a estrada da morte e ainda se detém para oferecer aos discípulos amados (sim ele os amou até o fim!! No versículo 1, vejo o quanto havia afeição e carinho por aqueles homens) um derradeiro ensinamento.
Ele tira a capa, envolve a cintura como uma toalha, enche uma bacia com água, manda a galera sentar, lava e enxuga os pés dos discípulos.
O ritual normal para a entrada em qualquer ambiente se tornou dinâmica de grupo Divina.
Ele amou didáticamente.
Não estamos falando de qualquer pezinho frequentador de pedicure semanal, mas sim do pé palestino, sujo, cascudo, feridento e mal cheiroso.
Ele vai além e diz que assim como Ele fez devemos fazer. Saberão que somos discípulos se assim o fizermos. E mais, seremos felizes se colocarmos em prática aquilo que aprendemos com o Mestre.
O segredo da cura está na disposição para sermos instrumentos de cura para outro, quando lavo seu pé, meu pé será lavado.
Não descerá anjo ou qualquer outra entidade para fazer o serviço, pois cabe a mim fazê-lo.
Quebro meu casulo, dessa forma me aproximo o suficiente para ver realmente aquele que se apresenta a minha frente. Interessante que a palavra grega para alma também é usada para borboleta, aquele bichinho lindo que sai do casulo.
Jesus finaliza dizendo que quem receber aquele que Ele enviou, o recebe, assim como recebe o Pai que O enviou.
Aceito como verdade para minha existência que o milagre está mais nas minhas mãos do que eu imaginava.


26 comentários:

Anônimo disse...

Reconheço a verdade do Evangelho exposto por você, mas vejo em mim uma lei que me escraviza a amizades íntimas, a pessoas mais chegadas e não a qualquer irmão na fé. Não consigo me expor a quem não há casamento espiritual no encontro.

Adriana disse...

Poucos cabem no meu perimetro e este elan vital precisa acontecer, te entendo perfeitamente.
No meu caso, meu universo interno me é tão interessante, me divirto com minha ignorância, imagina com o resto, o casulo acaba ficando cascudo demais, entende?

Anônimo disse...

Claro que entendo, mas no Evangelho não deve ser assim. Precisamos de comunhão de verdade e sabemos o quanto isso é difícil. Jesus lidava maravilhosamente com as diferenças e os diferentes, eu estou longe de lidar tão bem com as diferenças. Mas não perco a esperança, um dia eu chego lá. Te entendo perfeitamente.

Anônimo disse...

E como te entendo. kkk

Adriana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriana disse...

Um leão por dia.

Agradeço suas considerações, elas me são por demais preciosas.

abraços

René disse...

Pôxa, Adriana, que coisa linda!

Me reúno com algumas pessoas, em e ao nome de Jesus, buscando sempre uma comunhão mais íntima, tanto com o Senhor, quanto com as pessoas. Mas sempre tenho aquela sensação: "Tá faltando alguma coisa!". E, quando vi você chamar atenção para o "comunicar nossas almas", que Paulo falou e sentiu, foi como uma grande luz tivesse sido acesa. Esta é a minha grande dificuldade que, provavelmente, sempre me faz pensar que falta algo. Falta essa intensidade de relacionamento, que começa com a nossa própria entrega. E acho que é aí que está a grande dificuldade...

Valeu! Acho que novos tempos começam, a partir de agora!

Continue na Paz do Senhor Jesus!

Adriana disse...

René,

por aqui chegamos a mesma conclusão!!

Nosso grupo vê novos tempos em nossa relação horizontal com o Divino.
Bom saber que este texto te ajudou de alguma forma.
Ainda bem que o Senhor nos salva de continuarmos sendo metade, incompletos e capengas.

grande abraço

Cristiane Jacob disse...

Olá minha amada, eu tive o privilégio de ouvir estas palavras que vc escreveu, e ditas elas tem um sentido todo especial. Concordo com o amigo Claudio e com vc mesma quando dizem que é dificil lidar com as diferenças e os diferentes, nós todos temos reisitências ao novo, mas quando olhamos com os olhos da alma, nos dispomos a aceitar e amar o diferente, o fato de estarmos todos no Caminho já demosntra claramente isso, ou vcs querem mais diferença?kkkkkkkkkkkk!!!!!! E vc Adriana, só o fato de conviver com tanto amor, tanto carinho, tanta dedicação , comigo, que como vc mesma diz, alguem que mergulha no mar revolto e ainda quer ver o tubarão, enquanto vc nem molha o pézinho...É só olharmos em volta que percebemos que convivemos todos os dias com o diferente e que não precisamos ir tão longe para lavar os pés, muitas vezes não lavamos os pés nem daqueles que estão do lado e sem meias... Precisamos é lixar o casco, o calo e começar a deixar o pé fino para sentir a relva fresca e macia, assim, conseguiremos caminhar de forma mais humana, mais sensível...
Amo vc
Com Amor
Cris

Eder Barbosa de Melo disse...

Quero fazer parte desse movimento! Pra mim a igreja precisa ser mais do que um grupo social onde nos encontramos rotineiramente. É um grande desafio, mas acho que a igreja precisa ser família. Parabéns pelo texto.

Adriana disse...

Que bom, voltou!!
Te amo Cris.
Vc tem lavado meus pezinhos,tenho certeza que vc nem imagina o quanto.

abraços

Adriana disse...

Eder,

obrigada, sua opinião abalizada me incentiva.
Estamos juntos maninho.

abraços

João Carlos disse...

Complicado isso... talvez possa ser mau iterpretado, mas "quem sai na chuva é pra se queimar"...

Pessoas que fazem parte de nosso convívio e que são amados por nós podem gerar um nível de desgaste tão grande na nossa relação que pessoalmente creio que há momentos que devemos (ou ao menos podemos) romper com a relação.

Para isso, devemos passar por todas as etapas do conselho dado por Jesus em Mateus 18.15-18

"Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu".

Existem ao meu ver dois extremos que devem ser mantidos em tensão contínua, para que encontremos o equilíbrio. Amamos nossos inimigos e oramos pelos que nos perseguem, MAS, por outro lado, isso não significa que devamos ter comunhão íntima com ele a qualquer preço.

Estou pronto. Podem sentar a ripa!

Abraços a todos!

JC

Adriana disse...

eu não sento a ripa!!

Percebo todas esta nuances e matizes, e ainda assim preciso ficar a disposição.
Em minhas andanças virtuais, tenho encontrado poucos com sua disposição em amor.
Vc é um exemplo para mim.

abraço

Roberta Lima disse...

Adriana!

Sempre te vejo comentando em diversos blog's que leio e agora sigo (sou uma das mais novas blogueiras da net) e comecei a te seguir tb e agora estou dando uma parada para ler suas postagens e com imensa alegria vejo qta coisa preciosa pude encontrar por aqui.

Subscrevo tuas palavras do texto acima...que nos deixemos contagiar pelo movimento anti-casulo, que possamos fazer do amor um exercício vital e essencial a cada momento de nossa jornada.

Creio que Jesus poderia ter feito tantas coisas nos seus últimos momentos nessa terra como homem, mas ele escolheu expressar o amor através de uma ação concreta - lavar os pés dos discípulos (isso me impacta profunda e confessadamente)

Também achei interessante o fato de que a palavra grega para alma também é usada para borboleta...gosto demais delas e como disse certa vez o sensível Rubem Alves: "não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses"

Que o PAI nos conduza pela metamorfose do amor em nossas almas-borboletas...

Te convido a conhecer meu cantinho, assim como eu está em construção:

http://meninasdoreino.blogspot.com/

Abraços!

Roberta

Rô Moreira disse...

Uai eu postei e não entrou? acho que fiquei no vácuo rssr

Unknown disse...

Que texto contagiamte. Muito bom.
bj
Aryane Pinheiro
(Brilho da Lua)

Regina Farias disse...

Dri

Esse é um daqueles textos que a gente acaba de ler e fica alguns segundos sem respiração.Sem respiração, levitando, na paz... Já falei antes não sei em qual blog sobre esse momento de êxtase. Que sensação estranha!

E o que me deixa mais admirada é que hoje a palavra de ordem foi "DIFERENÇA".

Ser instrumento de cura pra valer requer que se saia do casulo e aí é que a coisa pega, pois ninguém quer sair da falsa segurança do casulo e se expor, ir fundo, se abaixar, lavar a nossa sujeira que está no outro.

A essa diferença preferimos fazer vista grossa.

E continuamos sujos e afirmando que amamos os diferentes...

Texto denso, soco no estômago, mas a retomada vale!

bj

R.

Rô Moreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriana disse...

Regina,

"lavar a nossa sujeira que está no outro" foi uma sacada sensacional!!
Vale mais uma noite de insônia produtiva.

valeu!

obrigada pelo carinho

Adriana disse...

Rô,

o que chegou eu postei, tive alguns problemas com o blogger, acho que foi isso que atrapalhou o tramite.

Pedrão é figura, difícil não se identificar com sua total extroversão.
Eu tbém encontrei verdadeiros amigos e irmãos por estas bandas, gente que ofereço meu pezinho sem neuras.

fique na Paz querida.

Amanda Luna disse...

Oii obrigado pela visitinha, tamém já estou te seguindo!!!
Beijão
sermulhereomaximo.blogspot.com

Eduardo Medeiros disse...

vale comentário atrasado?????

"comunicar almas"...é uma bela expressão, não? E entendo que você está certa na sua interpretação. Mas quem pode fazer isso nas mega-igrejas do evangelho capitalista?

beijos

Adriana disse...

Claro que pode!

Dudu,

Eu confesso que não consigo, Deus sabe que tentei.
E vc tem toda razão, no evangelho que coisifica há semi-deuses e gentinha, os dois grupos não se chocam apenas se alimentam.

beijos pra ti

Ever.TON disse...

Oi Dri olha eu Aqui ^^ (só pra rimar rsrsr).

Mana louvado seja o Pai por inspirar a gente em conversas tão maravilhosas.
Papai tem falado ao meu coração recentemente sobre isso... "o deixar o barco pra trás e ir em direção ao outro.
"desencosta da parede Everton" é o que eu "ouço".

Sabe tenho aprendido na Dor.
Lendo seu texto me ocorreu o seguinte:
"É NO encontro com o Outro, com o semelhante falho, desprovido de perfeição, que somos 'lavados' e curados de nossas feridas. É as mãos do outro que o Pai usa para sarar. No encontro com o outro temos nossos pés 'desnudos' das sandalhas, é ali que paramos no andar por alguns instantes e usufruimos de contato da comunhão. Aos poucos as magos dão lugar ao contato, tristeza a alegria"

Adriana disse...

Everton,

só Ele ousa nos tratar com os outros.

abraço maninho, agradeço o carinho

 

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