Uma coisa deve ser dita: Fica proibido confundir Deus com sua representação. Dito isto podemos analisar as fontes do deus-imaginário.
Chamo de deus-imaginário o produto subseqüente da consciência infantil que pensa de certo modo que tudo é ela e ela é tudo. E essa aspiração à totalidade permanece como uma estrutura básica do ser humano, e o desejo religioso de um Todo Transcendente não escapa a esse movimento.
Os primeiros símbolos para a criança desse desejo são os pais, e o deus-imaginário adquire forma e configuração a partir deles. É no pai, segundo as análises freudianas que a criança projeta a onipotência, aquela que no princípio estava atribuída a ela mesma. O pai aparece, então, como a própria realização da onisciência, da onipotência e da onibenevolência. Porém com essa imagem perdida, o deus-imaginário, por meio da figura perdida do pai, toma nome, forma e figura.
O Deus de Jesus ao contrário do deus-imaginário nos convida para o enfrentamento da realidade. Ele não é um aliado dos nossos próprios desejos e interesses, e nem escamoteia as dificuldades e complexidades da vida humana. O Deus que se manifesta em Jesus não é certamente o que desejamos.
O deus-imaginário é um deus mágico que serve para levar o indivíduo a superar de maneira mágica a dureza da vida. É um deus explica - tudo possuindo uma resposta para cada problema ou incógnita da existência. É um deus das ameaças e castigos, principalmente na área da sexualidade. É um deus que enfim nega toda experiência real de dor e entre elas a própria morte.
O Deus de Jesus é aquele que nos remete de volta à realidade com toda a dureza que esta possui, e não nos solucionam os problemas, mas nos dinamiza para que trabalhemos na tentativa da solução. Ele não está para explicar o sofrimento, mas para nos conduzir a fé, reduzindo todo tipo de ambivalência. Ele nos faz perceber que a vida humana é uma maravilha mesmo quando surpreendida pela dor, pela pergunta sem resposta e pela própria morte.
O deus-imaginário é visto como onipotente, mas o Deus de Jesus é nos apresentado como um Ser enfraquecido pelo amor, podendo ser rejeitado. Esse Deus não cabia na mente do judeu que esperava sinais e nem de gregos que esperavam saberes absolutos, um Deus revelado no crucificado era escândalo e loucura.
O Deus de Jesus nada faz para ser amado ou adorado, temido ou reverenciado. Sua ação em favor dos homens não é uma expressão de seu poder, mas de seu amor gratuito. Sim! O Deus de Jesus é um Deus de amor, que não anula as diferenças e nem nos retira dos conflitos da realidade, antes é um amor que pelo exemplo nos estimula a decisão pela fraqueza. Amor que se põe do lado do fraco, oprimido e marginalizado, se opondo a todo sistema de opressão, ódio e marginalização.
O Deus de Jesus não é um poder absoluto que se impõe sobre os homens, mas primordialmente um Ser relacional que uma vez crido e experimentado pelos homens nos conduzirá ao fim do mundo que é o começo do Reino.
0 comentários:
Postar um comentário