Soren Kierkegaard certa vez disse que a vida é um baile de máscaras.
Ele
sabia que este era o escudo atrás do qual as almas se escondiam de si
mesmas, e, assim, tentavam ocultar suas faces também para a percepção
dos demais.
A maioria quer ser famosa, mas poucos querem ser conhecidos!
Ora,
usar máscaras, para muitos, não passa de truque, de um direito, de uma
opção: ser ou não ser; mostrar ou não mostrar; como se tal bravata
contra o próprio ser pudesse passar sem punição.
Para muitos, esconder-se atrás das máscaras é apenas uma questão de proteção ou de diversão inexaurível e viciante.
Sim, acaba virando um vício do ser, a tal ponto que sem as máscaras muitos homens não suportam e morrem.
Assim, para a maioria, sem o personagem, acaba a pessoa.
Talvez
esta seja a razão pela qual até agora ninguém conseguiu conhecer você,
pois toda revelação que você faz de “si mesmo”, é sempre uma ilusão.
Você não sabe quem você é, mas apenas sabe qual deve ser a sua imagem, a sua máscara.
Nesse
caso, sua mais ardente e compulsiva tarefa na existência consiste em
preservar seu esconderijo. E, sem dúvida, devemos admitir que muita
gente desenvolveu tal capacidade de transformismo com a mesma habilidade
dos polvos miméticos.
Sendo assim, diz Kierkegaard, “você é tão mais bem sucedido, quanto mais enigmática for a sua máscara”.
Quando a existência se transforma “nisto”, eu e você viramos de fato nada além de NADA.
Ou
seja, passamos a ser apenas uma “relação com os outros”; e o que nos
tornamos é unicamente em razão e em “virtude dessa relação”.
A
moral é a grande máscara. E os moralistas são o que detém o maior
número de disfarces. Entre esses, o mais danoso de todos é o
estelionatário da religião, o picareta que come as almas dos homens.
Lobos
mascarados de ovelhas! A maioria existe assim. Daí, para muitos,
catástrofes que lhes roubem as “máscaras” os deixam em estado de
desespero, visto que sem a máscara eles não possuem um rosto próprio,
algo que a própria pessoa reconheça para si e como sua, e não apenas
como um reflexo da imagem que os outros devolvem para você mesmo,
supostamente acerca de quem você aparenta ser para eles.
Desse
modo, você vende imagem, e se alimenta dela. Mas no dia em que as
máscaras são tiradas, muitos não conseguem mais viver, pois neles não há
uma vida própria, mas apenas uma existência fabricada para consumo no
Baile de Fantasias, que é a existência da maioria.
“Você não sabe que vem a hora chamada ‘meia noite’ na qual todos terão que lançar fora suas máscaras? Você crê realmente que a vida se deixará zombar para sempre? Ou talvez você pense que pode escapar um pouco antes da ‘meia noite’ e fugir de tal hora? Ou será que você fica apavorado com essa idéia?”—pergunta o profeta.
Você
consegue pensar em algo mais apavorante do que ter que viver tal “meia
noite” em sua existência na Terra ou em qualquer outro lugar onde isto
possa lhe acontecer?
Quem vive nesse Baile de Fantasias não tem idéia do que faz de mal à sua própria alma.
Não existe droga mais viciante do que a força compulsiva da “máscara”.
Aquele
que se faz um com a mascara, faz-se um com o Nada, pois sua natureza
vai se dissolvendo numa multiplicidade... e que acaba fazendo com que
esse ser realmente se torne muitos.
Você
pode se tornar semelhante àquele pobre Gadareno, ocupado por “infelizes
demônios”; numa legião de falsas identidades, que não são suas
identidades, e muito menos correspondem a você!
Os demônios habitam sob máscaras.
Por isto mascarados lhes são tão desejáveis residências.
Pobre do auto-enganado que pensa que as máscaras o salvarão!
Tire
de sua cara a máscara. Do contrário, você poderá vir a perder a coisa
mais sagrada e preciosa de um homem - o poder unificador da
personalidade, e a capacidade abençoada de se tornar alguém que seja
realmente você.
Reflexão
sobre as “Máscaras”, conforme a advertência de Kierkegaard, um irmão de
leite que não cheguei a conhecer pessoalmente, visto que entre nós há
séculos de separação no tempo. Mas somos mais chegados que irmãos, em
milhares de pequeninas coisas.
2 comentários:
"Sim, acaba virando um vício do ser, a tal ponto que sem as máscaras muitos homens não suportam e morrem."
Essa frase do Caio me chama a atenção, mas de uma outra forma adotada no texto.
Vejo positivamente essa 'morte'. Ao meu ver refere-se ao homem que morre por deixar Jesus assumir sua vida, como Senhor perfeito do servo inútil, mas consciente de seu lugar!
Essa morte, deve ser notada como fruto de uma nova vida, sem a máscara de ser quem não se pode ser!
Tirar a máscara é mesmo morrer para a visão que o mundo, e a sociedade religiosa crê, e viver para o novo de Deus, restaurando-me na minha essência!
Muito boa postagem!
Só agora saquei que comentei 'logado' como a minha mulher... puro mico carioca!
srsrsrsrsrsr
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