Confissões de uma pastora (ex neo pentecostal) parte II

sexta-feira, 16 de julho de 2010


Hoje tenho uma relação mais sadia com a igreja-instituição. O que me liga a ela é algo de outra dimensão, não mais a necessidade de ser aceita no clube "dos amados por Deus" ou no clube dos "não sou o Jim Carrey mas conheço o Todo poderoso, pra caramba". Não me fixo a nenhum padrão que estabeleça Deus como ídolo, lugares sagrados não fazem nenhum sentido. Ele tabernaculou!!! Fim de papo.
Tenho respirado o ar mais que puro, pois tenho encontrado Cristo fora do portão e do padrão.
Comento com meu marido que estou em processo de desintoxicação, porque outrora este tipo de relação me foi necessária, neste muitos anos de cativeiro de pedra, doutrinada desde o nascimento a crer e pensar assim.
Sim , eu precisei dos grilhões!
Existe um pai-nosso bem peculiar nesta instituição que, mais parece um kinder ovo, por fora é um simples ovo mas por dentro, quanta surpresa.
Se vestir a carater é essencial mas ter carater é dispensável neste jogo de cartas marcadas. Como são respeitáveis os paletós e gravatas!! Estes adquiridos na exploração da generosidade filha bastarda da barganha.
Os beneficiados dos tais "presentes divinos" parecem viciados e quase sempre criam situações mantenedoras desta compreensão de que, há seres mais queridos por Deus e portanto vamos honrá-los, e de preferência, presentea-los.
Se você trilhou este atalho mal feito, sabe do que falo.
Eu entendo que muitos precisam demais deste esquema para se sentirem "alguém". Se valem de seu carisma, poder de persuasão, manifestam as identificações com a personalidade mana, processo descritos por Jung.
Em que outro lugar tal pessoa teria destaque, senão fosse neste cabide de empregos na empresa dos "cegos"? Não, apenas neste ambiente, muitos tem o espaço que sempre sonharam. O sonho de poder para se sentir gente.
Eu achava complicado questionar os exploradores porque muitas vezes eles se consideram uma casta diferenciada, de uma classe especial que deve receber favores dos outros "porque Deus quer assim".
O ungido pode fazer quase tudo, e ai daquele que tocar nele e blábláblá.
A mentira é o meio pelo qual se chega aos fins, sem constrangimento, pois se faz necessário a sobrevivencia do esquema que leva o nome de Deus e que alimenta bocas com o pão do abuso psicológico.
O "pão nosso" é o salário do corporativismo.
Uma igreja não fecha porque o homem decidiu que não vai fechar, mesmo que Deus não seja, verdadeiramente, invocado nestas quatro paredes.
Sou estudiosa das deformidades da personalidade e o sentimento de onipotência que o negocio da fé acaba gerando na cabeça do homem simples e ordinário é algo fascinante. Estive debaixo da "cobertura" de gente muito deformada, que poderiam viver suas deformidades mas jamais deveriam impô-las.
Não há ninguém que diga: o "rei está nu!", pois tudo é bem alinhavado dentro da perspectiva da aprovação divina. Afinal, você topa questionar o Altíssimo? Se você é levado a crer que Ele é um menino tirano que precisa ser acalmado feito um deus pagão, claro que você não fará nada a respeito.
Dessa forma, nos tornamos peças da engrenagem, corporativistas passivos, ligados ao ambiente da institucionalidade, por fé, que na maioria da vezes é sincera.
Sim, eu disse "amém" para o esquemão dos cegos guiando cegos, que não entram nem deixam entrar.
A confissão me traz cura.
Romper não é fácil , mas é possível.
Viver é preciso.Viver é decisão.
Só há Um no qual há vida, e não é pouco não, é abundante.



15 comentários:

Marcia Moreira disse...

Olá.
Também passei pela fase de desitoxicão. Confesso que foi muito difícil, mas cheguei lá e me sinto muiiiiiiiito melhor assim.

Que Deus te abençõe.

Regina Farias disse...

Dri,

Reafirmando o que disse lá no Café
eu acho simplesmente maravilhoso esse lance da construção/desconstrução/construção.

Como falei, eu me identifico com essa história e, como você diz, também precisei dos tais grilhões.

E também houve uma época em que ou eu desabafava ou explodia; e os mais rígidos e inflexíveis torciam o nariz chamando de ressentimento.

Romper não é fácil mesmo, só por meio da CURA... que não confunde!

Deus te abençõe!

R.

Unknown disse...

BELO POST... MUITO BOM MESMO

OI ADRIANA, VEJO COMO VOCÊ GOSTA DE UM BOM BATE PAPO, POIS SEMPRE TE VEJO INTERAGINDO NO BLOG DO EDER(RECORTES) POR ISSO SEI QUE VOCÊ É DAS MINHAS QUE GOSTAM DE UM BOM E SAUDÁVEL DISCURSO!!!

POR ISSO QUERO TE CONVIDAR PRA DÁ UMA OLHADINHA NA CHARGE QUE POSTEI NO MEU BLOG... PASSA LÁ E DEPOIS ME DIZ O QUE ACHOU, TENHO CERTEZA QUE NO MÍNIMO VOCÊ DARÁ BOAS RISADAS...

Roberta Lima disse...

Adriana,

O que posso dizer é que compreendo suas confissões e como as compreendo e falar delas é libertador, ainda mais que a vejo falando sem amargura, sem raiva...

Abraços,

Roberta

Anônimo disse...

Dri, vou postar essas duas maravilhas lá no meu blog.

Adriana disse...

Maninho,

a casa é nossa.
Apenas aviso que as próximas serão mais ácidas, mas fique a vontade.

abraço

Vovó Noemia disse...

Deus a abençoe!
BJo!

Cristao confuso disse...

É doutora...

Já faz um tempo que te acompanho no silêncio (belo template! Um dia aprendo fazer um troço leve e bonito assim).

O problema de abdicar de ser este "ser superior" é a forma que se é discipulado: você é ensinado a admirar esses "seres especiais", com a chance de se tornar um.

"...Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, sou dito cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês..." dizia Raul em seu "Ouro de Tolo", sem entender o porquê de continuar insatisfeito, apesar de alcançado seus preciosos objetivos primários.

Nunca cheguei ao status de "pastor" em minha comunidade (e talvez precise alcançar, para abdicar dele, em nome da melhor compreensão do que é isso) mas abrir mão de "coisas" semelhantes, na época, me causou um gosto prolongadamente amargo:

Não tinha noção de quanto aqueles anos não me prepararam para a tribulação que enfrentaria, apesar dos congressos, livros, cursos, dinâmicas, unções, untações, gideões, quedas e levantes no Espírito.

Foi quando eu vim parar na Internet... quase 10 anos atrás.

O tempo me ensinou a não entrar em certas dissenções. Aprendi com o Ari que essas coisas são cíclicas (e ao reler os séculos passados, vi as mesmas "diabolices" se repetindo nas lideranças eclesiásticas em muitos tempos e regiões, sistematicamente.

Sim. Muito do que vomitei, se pudesse, não teria feito. Não pelos que denunciei, mas pelos pequenos que me ouviam e envenenei com o que estava em minha alma.

Não sei se é a idade(que me faz consciente de largar as pedras antes dos jovens), a saúde(que caçoa, explanando que aquela antiga tenacidade depende de outros fatores, que não só minha simples vontade), mas já não os odeio como acho que deveria. Muitos "deles" poderiam ser colegas de serviço, e se não fosse a religião que nos separasse, poderiamos ter os mesmos bons papos do serviço, num fim de semana regado a churrasco e ki-suco.

Deixa eu parar por aqui. Era prá ser um comentário...como sou prolixo.

#bjmeliga

Adriana disse...

É verdade Zé,

De forma velada ou não, somos doutrinados que há um céu ministerial, onde passeiam os mais queridos, os ungidões.
Eu via duas castas de gente, os com contato direto com o Manda chuva e os crentinhos cujas orações jamais serão ouvidas.
Andando junto que esta trupe, eu validei indiretamente o que eles pregavam, por isso ainda me dói pensar no veneno que ajudei a espalhar.
Deus sabe como gostaria de refazer esta parte da minha história.

abraço

Anônimo disse...

É, minha amiga... eu só aqui como um voyear apreciando o desnudar da tua alma de menina... Que bom que fosses liberta daquela coisa toda. Dá um nojo quando a gente sai daquilo. Parabéns pelo teu caráter.

Li bem que as tuas próximas postagens serão mais "ácidas"? Pode vir quente que eu to fervendo!!

Beijos.

Anônimo disse...

Oi amiga...as coisas não são como gostaríamos que fossem,más eu creio que Deus não nos dá um fardo maior do que possamos carregar não é mesmo?!?
Espero tirar desses momentos muito aprendizado,e muito valor às coisas que antes não dava...obrigada pelo seu carinho, e por estar sempre comigo...vou sair dessa sim,com ajuda de Deus e de vcs meus amigos!!!
Bjks

Rô Moreira disse...

Adriana quando foi amiga que vc descobriu isto? a impressão que se tem foi que vc descobrtiu isso agora. Sabe descobri isso tudo a 5 anos atrás quando entrei na internet e comecei a ver as coisas parece que o céu se abriu para meu entendimento e reparei que o que eu vivia era totalmente fora da realidade, costumo dizer que quando entrei na internet eu era uma, hoje sou outra, pois foi aqui que meus olhos se abriram para o que eu eu vivia dentro do sistema. e louvo a Deus que isso aconteceu em minha vida. Paz!

Adriana disse...

Então Rô, sim descobri agora.

Imagina, meu processo de libertação foi processual.
Frequentar a mafia elucidou muita coisa, o bacheral em teologia ajudou, mas mergulhar no Evangelho foi determinante.
Não sei como foi sua experiência mas de onde vim, o esquema maçonico de controlar as informações relevantes faz toda diferença.
Olhando de longe até parecem homens e mulheres de Deus, chega perto e sentirá o cheiro real.


abraços

Rô Moreira disse...

Os meus primeiros passos foram bons, mas passei por lugares que foram duro de aguentar, pois conheci os bastidores entende?? e lá eu pude ver quantas coisas erradas, que muitos pregavam nos púlpitos que na prática diária não condiz com o que pregam. Por isso não desisti de Deus mas desisti deste sistema corrupto, Creio minha amiga que ainda existe homens comprometidos com o que pregam na verdade, mas isso nos deixa ranso e se não nos cuidarmos passamos a ser pessoas amargas e sem confiar em ninguém, vi coisas terríveis, mas não deixo Deus por nada nesta vida, louvo a Deus por ter me mostrado muitas coisas, por isso digo que vi dentro do sistema, mas fui muito ajudada na internet com informações. Hoje sou outra, mas madura no entendimento, e madura no sentimento pra com meu próximo. Paz!

Adriana disse...

Rô,

Existem homens que vivem o evangelho e sei porque ando junto então vejo os frutos.

abraço

 

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