Quem leva quem

quinta-feira, 18 de junho de 2009


Paulo caiu do cavalo.





Na verdade, nem há um cavalo na cena descrita por Lucas, que nos diz apenas que Paulo caiu.
No entanto, ainda assim, formou-se com essa imagem uma nova expressão universal que designa que alguém ‘perdeu o chão’, ‘alterou seus conceitos’, ‘derrubou por terra’ as ideias antigas ante uma verdade incontestável.
A alegoria é, para dizer o mínimo, interessante e eloquente. Eu caí, você caiu. Doeu mas foi bom. grifo meu
Lucas nos fala de uma luz, da surpresa, estarrecimento e maravilha diante de algo novo e elucidador trazido às claras.
Nada mais pode permanecer igual, após um momento desses. O tempo, se divide em antes e depois desse instante.
Um encontro pessoal com Deus – quem já o teve bem o sabe – é uma experiência transformadora de encontro do “eu” com o “outro”. A partir daí, estende-se um longo processo – mesmo eterno, diríamos – de aproximação, de intimidade com esse Deus.
A conversão vem, via de regra, associada de arrependimento (Mt 3,2, At 3,19, Ez 18,21), de luta interna consigo mesmo, por vezes de profunda agonia. Mas, acima de tudo, é insufladora de vida, ao contrário do pecado que nos leva à morte, nos detona aos poucos.
O neo-cristão passa pelo que chamamos de metanóia (μετάνοια), uma transformação por inteiro, sobretudo de mentalidade. Como consequência, começa a perceber e distinguir uma dualidade entre ‘mundo criado’ – no sentido de programado por Deus – e ‘mundo atual’ – no sentido de desconstruído pelo homem. Passa a ter a consciência que não pode mais pertencer ao mundo que o rodeia, e começa a enxergá-lo com os olhos de Deus (Oculo Dei), talvez por isto tenhamos que ficar cegos por uns dias. Com certeza só algo tão poderoso pode inserir em meu peito essa noção de que sou parte de um novo povo, segregado, separado, escolhido, uma nação santa – um povo não-conformado ao mundo, lançado como semente ao vento, levando o universalismo da salvação a todos os confins da terra.
Que essa jornada transformante preencha de vida nossos dias, cada vez mais próximos ao Deus da vida.
São Tomás de Aquino diz que Deus não pode estar restrito ao tamanho de nossa inteligência.
Metanóia é a contínua superação, pela graça de Deus, de toda a limitação humana.
É um mergulho, irretornável.

por Claudio Torres





2 comentários:

Chalela evoluindo disse...

aqu é posível criar um pensamento mais coerente quanto as "quedas" que temos em nossa vida, que podem ou não nos levar a ser mais próximo da estatura de varão perfeito ou não.
muito boa escrita que transforma em boa leitura.

Cristiane Jacob disse...

Certa vez ouvi algo de alguem importante na minha vida que dizia assim: quando temos uma entrega total com Deus, deixamos de questionar, de lutar, de querer fazer pelas proprias mãos.
Acredito, lendo esta mensagem, que meus dias de cegueira estão terminando, ler e ouvir vc é sempre um prazer muito grande, pois vc mescla a palavra com um toque particular e especial que não é autoritário, mas nos faz pensar.
Obrigada, amo vc.

 

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