Deus só é bom se for fixo!

domingo, 30 de janeiro de 2011



Quando Jesus disse “Quem vê a mim, vê o Pai”, acabou todo o trabalho de especulação acerca de Deus e iniciou-se o caminho do conhecimento de Deus pela via da experiência pessoal do indivíduo com Jesus. A partir deste momento também se deflagrou, explicitamente, a jornada do conhecimento de Deus pela simples e humana manifestação de Jesus para com todos os tipos de seres humanos.

Olhando Jesus, vejo Deus se relacionando com os seres humanos num mundo não-ideal, ou caído, como se costuma dizer. Assim, Jesus revela a relação de Deus com a vida conforme os olhos humanos a vêem. E propõe a relação do homem com Deus como amor a Deus que se manifesta de modo humano; amando a Deus no próximo.

Em Jesus, o amor a Deus se torna algo simples como Ele disse que simples seria ver o Pai: simplesmente olhando para Ele. “Quem vê a mim, vê o Pai”. Todavia, seguindo o mesmo sentido e qualidade relacional, Jesus disse que se Deus é visto no Filho do Homem, do mesmo modo Deus só é amado no homem.

Desse ponto em diante, começa uma vida com Deus que se faz marcar pelo “assim como”. Em “assim como vos amei, amai-vos uns aos outros” ou “Assim como vos fiz (lavando-lhes os pés) fazei uns aos outros”. Ou mesmo: “Assim não será entre vós”, passagem em que falou que o padrão de liderança entre os discípulos não era pela via do controle, mas do serviço e da doação do ser ao próximo e sem juízo. Outro exemplo se dá em: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio”.

Desse modo, se substitui toda especulação pelo simples “assim como eu, assim seja com vocês, pois assim é conforme o Pai, o qual é visto em mim; pois eu e Ele somos Um”.

O interessante é que os humanos — que sempre criaram imagens de escultura para serem seus deuses; ou que modernamente cultuam a igreja, a religião, gurus e etc como verdadeiros deuses — ficam chocados quando se diz que a “teologia” acabou, que a filosofia cristã especulativa e grega é uma estultícia e que a simples verdade é: em Jesus está tudo.

Sim, Deus aberto, explicito, santamente arreganhado.

Diante disso, a questão é: como se pode cultuar uma imagem fixa e criada pelo homem e, ainda assim, ficar escandalizado quando se diz que quem vê Jesus, vê Deus? Fundado no fato de que “quem vê o Filho, vê o Pai”.

A resposta é tão óbvia quanto o pecado humano: “Deus de pedra a gente topa, mas vivo e humano-divino, andando e nos chamando a andar, a gente não quer”.

Sim, porque o homem prefere qualquer coisa fixa — seja um ídolo de barro, pau, pedra, ouro, gesso ou bronze. Ou então um “Deus” feito de pacotes de salvação, de unções especiais feitas por homens especiais. Podendo ainda ser algo coberto pela aura de uma espiritualidade ativada pela via de um rito, de um culto, de uma oferta; ou de qualquer outra forma de controle e gestão do sagrado — do que simplesmente crer que quem vê Jesus, vê o Pai; e tem tudo.

E por que é assim tão simples e complicado, tanto para “pagãos” quanto para “cristãos”?

Porque essa hiper-simplificação que a encarnação faz de Deus — quem vê a mim, vê o Pai — não é fixa, porém insuportavelmente livre. E ninguém, de fato, ou quase ninguém, gosta de liberdade. Também não quer possuir uma consciência que tenha que ser exercida o tempo todo, seguindo a simplificação suprema de Deus na Encarnação; a qual é simples e tão livre como o vento que sopra onde quer. Portanto, esta simplicidade demanda a coragem da folhas que apenas se deixam levar... E isto conforme o Evangelho, está nas vísceras da existência; e sempre inapelavelmente em Deus e com Deus.

Ao final, em algum momento final de verdade absoluta, todos os humanos vão ter que admitir que amaram muito pouco a liberdade. Tiveram tudo para viver livres, mas sempre criaram álibis para colocarem-se sob novos jugos de escravidão. Até mesmo aqueles pronunciados falsamente como “liberdade”. Jesus disse: “Quem vê a mim, vê o Pai”.

O problema é que Ele não disse fiquem, mas sigam-me. Não disse “façamos aqui três tendas”, mas afirmou que quem propôs tal coisa não sabia a loucura que pronunciava. Não disse fujam do mundo, mas sim vivam nele livres do mal. Não propôs nenhuma evasão da realidade, ao contrário, mandou discernir os tempos. Jesus não era previsível em nada, exceto em Seu amor e misericórdia. Não se impressionava com gente, nem com lisonjas, nem com números, nem com Seus próprios milagres ou qualquer milagre. Sempre afirmando que o grande milagre era amar apesar de tudo.

Assim, sempre escandalizou quem não deveria se escandalizar. E principalmente, escandalizou a todos aqueles que achavam que um homem como Ele não se ofereceria para ser amigo deles.

Por esta razão, é melhor chamar pau e pedra e doutrina e dogma, de “Meu Deus”; do que apenas ver o Pai em Jesus. Sem especulações ou teologismos, contentando-se em “segui-Lo”.
Tal percepção é tão danosa aos fazedores de ídolos de latão, como aos leiloeiros de barganhas cristãs. E não menos danosa aos teólogos sofisticados e, acima de tudo, à religião.

E por quê?

Ora, qual é a diferença entre um fazedor de ídolos de pedra e um fazedor de ídolos de idéias?

Outro dia um “alto clero” evangélico me disse que “a teologia é o estudo de Deus”. Que diferença há entre tal “curso sobre Deus” e um treinamento que um artífice de ídolos dá a um novo assistente de oficio? “Quem vê a mim, vê o Pai” é uma revolução que quase ninguém quer, pois acaba com quase tudo o que foi instituído como divino e sagrado. E isto vai da Macumba à Igreja Evangélica.

Enquanto isto...

Os mercenários, os lobos e os doutores de Deus tentam convencer o povo de que se não forem obedecidos ou seguidos em suas sabedorias, sofrerão as conseqüências. No primeiro caso haverá maldição e no segundo caso, uma viagem sem volta para fora da “sã doutrina”. Doutrina esta que só é sã porque é a deles; e eles são os “sãos” que não precisam de médico.

Por esta razão, Jesus continuará a ser a manifestação e encarnação do Pai para os cristãos, desde que sempre seja visto pelos olhos mal-intencionados de uns. Há ainda aqueles fanaticamente condicionados, que confessam tudo isto, mas têm pavor que o povo acredite e não precise mais de suas “sacerdotalidades” a fim de prosseguirem na jornada. “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos!” — advertiu o velho apóstolo João!

Nele, que É Aquele que É,



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