Quando
Jesus disse “Quem vê a mim, vê o Pai”, acabou todo o trabalho de
especulação acerca de Deus e iniciou-se o caminho do conhecimento de
Deus pela via da experiência pessoal do indivíduo com Jesus. A partir
deste momento também se deflagrou, explicitamente, a jornada do
conhecimento de Deus pela simples e humana manifestação de Jesus para
com todos os tipos de seres humanos.
Olhando
Jesus, vejo Deus se relacionando com os seres humanos num mundo
não-ideal, ou caído, como se costuma dizer. Assim, Jesus revela a
relação de Deus com a vida conforme os olhos humanos a vêem. E propõe a
relação do homem com Deus como amor a Deus que se manifesta de modo
humano; amando a Deus no próximo.
Em
Jesus, o amor a Deus se torna algo simples como Ele disse que simples
seria ver o Pai: simplesmente olhando para Ele. “Quem vê a mim, vê o
Pai”. Todavia, seguindo o mesmo sentido e qualidade relacional, Jesus
disse que se Deus é visto no Filho do Homem, do mesmo modo Deus só é
amado no homem.
Desse
ponto em diante, começa uma vida com Deus que se faz marcar pelo “assim
como”. Em “assim como vos amei, amai-vos uns aos outros” ou “Assim como
vos fiz (lavando-lhes os pés) fazei uns aos outros”. Ou mesmo: “Assim
não será entre vós”, passagem em que falou que o padrão de liderança
entre os discípulos não era pela via do controle, mas do serviço e da
doação do ser ao próximo e sem juízo. Outro exemplo se dá em: “Assim
como o Pai me enviou, também eu vos envio”.
Desse
modo, se substitui toda especulação pelo simples “assim como eu, assim
seja com vocês, pois assim é conforme o Pai, o qual é visto em mim; pois
eu e Ele somos Um”.
O
interessante é que os humanos — que sempre criaram imagens de escultura
para serem seus deuses; ou que modernamente cultuam a igreja, a
religião, gurus e etc como verdadeiros deuses — ficam chocados quando se
diz que a “teologia” acabou, que a filosofia cristã especulativa e
grega é uma estultícia e que a simples verdade é: em Jesus está tudo.
Sim, Deus aberto, explicito, santamente arreganhado.
Diante disso, a questão é: como
se pode cultuar uma imagem fixa e criada pelo homem e, ainda assim,
ficar escandalizado quando se diz que quem vê Jesus, vê Deus? Fundado no fato de que “quem vê o Filho, vê o Pai”.
A
resposta é tão óbvia quanto o pecado humano: “Deus de pedra a gente
topa, mas vivo e humano-divino, andando e nos chamando a andar, a gente
não quer”.
Sim,
porque o homem prefere qualquer coisa fixa — seja um ídolo de barro,
pau, pedra, ouro, gesso ou bronze. Ou então um “Deus” feito de pacotes
de salvação, de unções especiais feitas por homens especiais. Podendo
ainda ser algo coberto pela aura de uma espiritualidade ativada pela via
de um rito, de um culto, de uma oferta; ou de qualquer outra forma de
controle e gestão do sagrado — do que simplesmente crer que quem vê
Jesus, vê o Pai; e tem tudo.
E por que é assim tão simples e complicado, tanto para “pagãos” quanto para “cristãos”?
Porque
essa hiper-simplificação que a encarnação faz de Deus — quem vê a mim,
vê o Pai — não é fixa, porém insuportavelmente livre. E ninguém, de
fato, ou quase ninguém, gosta de liberdade. Também não quer possuir uma
consciência que tenha que ser exercida o tempo todo, seguindo a
simplificação suprema de Deus na Encarnação; a qual é simples e tão
livre como o vento que sopra onde quer. Portanto, esta simplicidade
demanda a coragem da folhas que apenas se deixam levar... E isto
conforme o Evangelho, está nas vísceras da existência; e sempre
inapelavelmente em Deus e com Deus.
Ao
final, em algum momento final de verdade absoluta, todos os humanos vão
ter que admitir que amaram muito pouco a liberdade. Tiveram tudo para
viver livres, mas sempre criaram álibis para colocarem-se sob novos
jugos de escravidão. Até mesmo aqueles pronunciados falsamente como
“liberdade”. Jesus disse: “Quem vê a mim, vê o Pai”.
O
problema é que Ele não disse fiquem, mas sigam-me. Não disse “façamos
aqui três tendas”, mas afirmou que quem propôs tal coisa não sabia a
loucura que pronunciava. Não disse fujam do mundo, mas sim vivam nele
livres do mal. Não propôs nenhuma evasão da realidade, ao contrário,
mandou discernir os tempos. Jesus não era previsível em nada, exceto em
Seu amor e misericórdia. Não se impressionava com gente, nem com
lisonjas, nem com números, nem com Seus próprios milagres ou qualquer
milagre. Sempre afirmando que o grande milagre era amar apesar de tudo.
Assim,
sempre escandalizou quem não deveria se escandalizar. E principalmente,
escandalizou a todos aqueles que achavam que um homem como Ele não se
ofereceria para ser amigo deles.
Por
esta razão, é melhor chamar pau e pedra e doutrina e dogma, de “Meu
Deus”; do que apenas ver o Pai em Jesus. Sem especulações ou
teologismos, contentando-se em “segui-Lo”.
Tal
percepção é tão danosa aos fazedores de ídolos de latão, como aos
leiloeiros de barganhas cristãs. E não menos danosa aos teólogos
sofisticados e, acima de tudo, à religião.
E por quê?
Ora, qual é a diferença entre um fazedor de ídolos de pedra e um fazedor de ídolos de idéias?
Outro
dia um “alto clero” evangélico me disse que “a teologia é o estudo de
Deus”. Que diferença há entre tal “curso sobre Deus” e um treinamento
que um artífice de ídolos dá a um novo assistente de oficio? “Quem vê a
mim, vê o Pai” é uma revolução que quase ninguém quer, pois acaba com
quase tudo o que foi instituído como divino e sagrado. E isto vai da
Macumba à Igreja Evangélica.
Enquanto isto...
Os
mercenários, os lobos e os doutores de Deus tentam convencer o povo de
que se não forem obedecidos ou seguidos em suas sabedorias, sofrerão as
conseqüências. No primeiro caso haverá maldição e no segundo caso, uma
viagem sem volta para fora da “sã doutrina”. Doutrina esta que só é sã
porque é a deles; e eles são os “sãos” que não precisam de médico.
Por
esta razão, Jesus continuará a ser a manifestação e encarnação do Pai
para os cristãos, desde que sempre seja visto pelos olhos
mal-intencionados de uns. Há ainda aqueles fanaticamente condicionados,
que confessam tudo isto, mas têm pavor que o povo acredite e não precise
mais de suas “sacerdotalidades” a fim de prosseguirem na jornada.
“Filhinhos, guardai-vos dos ídolos!” — advertiu o velho apóstolo João!
Nele, que É Aquele que É,
0 comentários:
Postar um comentário